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        Acusada de matar filha com cocaína, Daniele foi agredida na prisão; perícia não achou traços da droga na criança.

        Depois de 37 dias presa, a dona de casa Daniele Toledo do Prado, de 21 anos, deixou ontem a Penitenciária Feminina de Tremembé, no Vale do Paraíba, por volta das 17h30. Ainda dava tempo de realizar seu primeiro desejo após obter da Justiça a liberdade provisória: visitar o túmulo da filha, Victória Maria do Prado Iori Carvalho, que tinha 1 ano e 3 meses. Daniele foi presa em flagrante em 29 de outubro, acusada de provocar a morte da menina misturando cocaína à mamadeira, o que foi desmentido por laudo do Instituto de Criminalística (IC). Agredida na prisão, ela pensa em processar o Estado.

        A dona de casa chegou ao Cemitério de Tremembé dez minutos antes do fechamento. Depositou um vaso de flores no túmulo que via pela primeira vez e chorou. ‘Muita saudade. Não velar minha filha’, lamentava Daniele, que espera ‘recuperar a saúde’ para cuidar do filho mais velho, de 3 anos.

        Ao ser presa, Daniele foi levada à Cadeia Feminina de Pindamonhangaba. Espancada pelas demais detentas, ficou uma semana internada, com perfuração no tímpano direito, provocada por uma caneta, e fraturou a mandíbula. Ainda hoje, sentia dores no ouvido e no olho.

        Ao sair do presídio, a dona de casa e sua advogada, Gladiwa de Almeida Ribeiro, disseram que vão esperar o laudo completo do IC para decidir se pedem reparação ao Estado. ‘Minha cliente vai se apresentar em cinco dias no Fórum de Taubaté e se compromete a comparecer a todas as audiências’, disse Gladiwa. A advogada vai pedir ao Tribunal de Justiça (TJ) que arquive o processo por homicídio. ‘Fui escrachada, considerada doente, mas eu, Deus e minha família sabíamos da minha inocência’, disse Daniele.

        Na noite de 28 de outubro, um dia antes de morrer, Victória havia sido levada ao Pronto-Socorro Municipal de Taubaté. Apresentava pressão e pulsação baixa e sonolência. Morreria 14 horas depois, com um quadro de convulsões e três paradas cardíacas. Os médicos levantaram a hipótese de que a morte seria provocada por ingestão de cocaína.

        Um exame preliminar rotineiro da polícia, chamado “Blue Test”, detectou traços da droga. Posteriormente, os peritos do IC refizeram os testes e chegaram à conclusão de que não havia cocaína nem na boca nem na mamadeira de Victória. Foi o suficiente para o juiz Marco Antonio Montemor, de Taubaté, conceder o habeas-corpus, apesar do parecer contrário do promotor João Carlos Maia, para quem era preciso esperar o resultado de exames das vísceras, urina e sangue da criança, que devem ficar prontos em 15 dias.

        O alvará de soltura chegou à penitenciária às 16h55. Desde as 10 horas, porém, parentes de Daniele já faziam vigília diante do presídio, esperando a boa notícia que chegaria por volta das 16 horas. Tios, primas, a avó e o pai da dona de casa comemoraram, emocionados. ‘É um milagre. Consegui um milagre’, disse Luzia Alves Toledo, avó de Daniele. ‘Rezei muito para isso, minha neta é inocente.’

ESTUPRO.

        Segundo a família, Victória chegou a ser internada duas vezes no Hospital Universitário de Taubaté. Sofria convulsões, mas os exames nunca conseguiram detectar o que motivava esses problemas de saúde. Em uma das idas ao hospital, em 9 de outubro, Daniele diz ter sido vítima de estupro, nas dependências do pronto-atendimento, por volta das 23h30. O agressor seria um estudante do 5.º ano de Medicina, que foi reconhecido pela dona de casa.

        Um exame de corpo de delito comprovou a violência sexual. Daniele disse que o agressor prometeu vingança contra ela e a filha, caso a denúncia chegasse à polícia. O suspeito chegou a fazer exame de DNA, mas não foi encontrado esperma na vagina de Daniele que pudesse servir de comparativo. ‘Mesmo assim, as investigações sobre o estupro continuam’, explicou o delegado seccional de Taubaté, Roberto Martins de Barros.

Fonte: www.estadao.com.br. Acesso em 6-12-2006, Caderno Metrópole.