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         Três décadas após prender por engano 11 pessoas acusadas de atentados terroristas do IRA (Exército Republicano Irlandês), o governo britânico pediu desculpas oficialmente ontem. Em 1993 o caso virou tema do filme “Em Nome do Pai”, com Daniel Day-Lewis no papel principal.

         “Peço desculpas pelo transtorno e pela injustiça”, disse ontem o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Ele se encontrou com os ex-prisioneiros em Londres. Em 1974, dois atentados a bomba mataram sete pessoas e feriram mais de cem nas cidades inglesas de Guilford e Woolich. “As mortes e o sofrimento das famílias nunca desaparecerão. Mas não é nenhum bem que as pessoas erradas paguem por um crime tão terrível”, completou Blair.

         No filme “Em Nome do Pai”, de 1993, o ator Daniel Day-Lewis fez o papel de um dos acusados, Gerry Conlon, que ficou 15 anos na cadeia. O verdadeiro Conlon comentou que o que mais o incomodava era o fato de até hoje os britânicos não terem pedido desculpas. “Blair nos encontrou um por um, conversou conosco e nos escutou. Ele ultrapassou nossas expectativas”, afirmou.

         Conlon foi espancado e obrigado a fazer falsas confissões. Ele acusou de participação o próprio pai, Giuseppe, bem como a cunhada do pai, Maguire, seu marido, irmão, dois filhos e um amigo da família. Para ele, as desculpas são uma vingança pela morte de seu pai, em 1980, na prisão, tentando provar a inocência de sua família.

         Em 1989, a Justiça britânica reviu a pena dos quatro acusados pelo ataque de Guilford – conhecidos como os “Quatro de Guilford”- e em 1991 reviu a pena dos outros sete, ao ser provado que a polícia havia de fato usado falsas evidências e conseguido confissões por meio de tortura. O caso é considerado um dos maiores erros da Justiça no Reino Unido.

         O pedido vem em um momento em que às negociações para a paz na Irlanda estão em um impasse. O partido Sinn Fein, ligado ao IRA, está sob pressão após o roubo de um banco em Belfast em que foram levados cerca de 26,5 milhões de libras (R$ 130 milhões).          
          O IRA é acusado do roubo.

         O porta-voz de Blair, porém, nega que haja uma ligação entre o pedido de desculpas e a situação das negociações. Segundo ele, Blair desculpou-se porque era “a coisa mais decente a fazer”.

         Os ataques terroristas pelos quais os 11 foram condenados aconteceram no auge da campanha terrorista do IRA contra alvos civis na Inglaterra. O objetivo do grupo terrorista é unir a Irlanda do Norte, que pertence ao Reino Unido, à república independente da Irlanda, que ocupa o resto da ilha. Os irlandeses são majoritariamente católicos, enquanto os britânicos são em sua maioria protestantes anglicanos. Desde 1990 o IRA está em um cessar-fogo, após três décadas de luta.

Veículo: Folha de São Paulo

Caderno: Folha Mundo

Data: 10/02/2005